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Mensagens

A mostrar mensagens de janeiro, 2013

ESPELHO DE TI

  Já te viste ao espelho, hoje? Já – realmente - tiveste a curiosidade de quedar-te perante um espelho, hoje? Já, a sério? E o que viste? Deixa-me ser eu a dizer o que viste: um fantasma; um cabrão de um fantasma de ti próprio, um egoísta de primeira; um desamado, que, desalmado, percorre o mundo –há anos- à procura de alguém que o desmame nas práticas do verdadeiro amor; uma alma penada, carregada de uma vida penosa- e peneirosa.   Assim mesmo: uma vivência cheia de peneiras, a trabalhar para o físico, a moldar o aspeto, a querer ser um super-eu, em vez de ser (simplesmente) um EU.   E EU – este EU- em boa verdade te escrevo: recomeça tudo. Volta para a cama, aleita-te (e deleita-te) por uns bons cinco minutos – em total abasia. Respira, inspira, expira -inspira-te. Depois, no primeiro espelho que encontrares, olha-te, descobre-te com um ser jucundo. E beija-te. E abraça-te. E lambe-te. Gosta de ti. Acarinha-te: AMA-TE!   Não é imagem, nem reflexo: és TU- o ...

UMA VERDADE PRENÓSTICA

UMA VERDADE PERNÓSTICA   Isto de dizerem que a crise é a para todos, é uma boa de uma treta; é que eu vejo aí os pernósticos desta vida, tão espevitados e repontões, que andam a engodar aquele e aqueloutro, que só me apetece dar-lhes o fenecimento merecido. É isso: deviam ser celebridades – mas no dia de finados. E acabava-se, de vez, com este flagelo (isso sim: motivo de crise) que é a fama plastificada, adornada com quilos de base, rimel e baton; floreada com as altas costuras de tipos (?) cujos nomes terminam em s: do Augustus ao Magustus, do Gamas ao Tenenentes… e aos Sargentus- é tudo da mesma tropa…fandanga.   A imagem é a lei, a voz de comando para o êxito que julgam ser perene; é uma luta constante, um jogo, uma batalha pelo cosmeticamente atraente. Um verdadeiro pernóstico é, por norma, agnóstico. Acha-se ele próprio um Deus que nada faz (mas tudo tem a receber); é pouco dado a acrósticos ou mesósticos. Para o pernóstico, só há este diagnóstico: pessoas qu...

O ÚLTIMO LANCE

O ÚLTIMO LANCE Imperturbável, claro, assertivo. Olhar frio, distante, mas com a perfeita noção de que estava ali para revelar uma verdade- a sua verdade- perante o mundo -perante a vida. Assumiu tudo – com alguns rodeios (não arrastou pessoas para este confessionário público) -, de consciência declaradamente intranquila. Quando vemos alguém a admitir –alguém que admiramos, ainda por cima, ou que ... nos habituámos a admirar- o que, apenas, se suspeita (e recusamo-nos a acreditar) é o choque: o soco no estômago. E depois a raiva. E depois o ego em toda a sua plenitude: a sensação de engano, o desconforto da mentira, o aperto do logro; e a vontade de julgar, o ímpeto de condenar, o impulso de sentenciar. O de desejar tanto mal que coloca o réu sem outra saída que não seja viver eternamente num homizio. Um homiziado, um foragido, um proscrito. Esquecendo – ou querendo esquecer- que Lance Armstrong é, também, por incrível que pareça, um ser humano. Um ser (como qualquer humano) que ambic...

A DESCOBERTA

                                                     A DESCOBERTA   Descobriu uma caixa cheia de memórias, durante os preparativos para a mudança de casa; memórias de um amor guardado,arrumado-mas não esquecido. Cartas: muitas cartas escritas de vida, aromatizadas de paixão ( sim: ainda cheiravam a ela), lacrimejadas de saudade. Leu-as:todas. Mas uma,em especial, esmagou-lhe o estômago: a carta-a ultima que lhe escreveu-que nunca lhe enviou: "O telefone não toca ... –que terrível ansiedade- e estranho porquê; páro, olho, espero: e não escuto. Já não te ouço, nem vejo, nem abraço, nem leio –uma mensagem pelo menos- nem cheiro. Mas estás em mim: percebe isto! Preciso-te, quero-te, desejo-te; tu –nunca mais ninguém...

HINO AO CO-PILOTO

  HINO AO CO-PILOTO    Dois anos depois, ele descobre que, afinal, a vida nunca foi vida; ou que a vida sempre foi: não vida. Dois anos (vazios, efémeros) a ser conduzido por outros, pelas vontades alheias, ostracizado nas opiniões, a alertar para os obstáculos –mas não a desviá-los; proativo, e nunca ativo: diz, fala, explica, planeia, mas sem tomar o controlo dos acontecimentos: como um co-piloto. Assim mesmo: CO-PILOTO. Hifenizado, desaglutinado, desacordado ortograficamente. E, por isso, aqui e agora, neste momento, o co-piloto jamais será ostracizado; nunca, perderá a sua identidade, o estatuto que adquiriu ao longo dos tempos. Valha-lhe isso: o poder da palavra. Aqui e agora, o co-piloto   será escrito à moda antiga-como nasceu, e como ficou universalmente conhecido.   Chega. Chega do co-piloto ser sempre desvalorizado; chega do co-piloto ser o individuo a quem ser agradece –também. Porquê? Por que razão não é o primeiro na lista de agradecime...

GASPARICES

                                          GASPARICES  Recordar é (re)viver uma animação pró-psicadélica do anos 80; recordar é rastejar até ao mítico Bichinho Gaspar- o bichinho que vivia numa maçã, era comido, fazia uma viagem alucinada, casava e constituía família no fim. Pelo meio, a metamorfose dava-lhe asas e voava tão perto do sol que as queimava. Como estamos em época Gasparícia, decidi dar Gaspacho (uma espécie de despacho com assinatura de Gaspar) a esta memória. É isso: devia ter mais em que pensar, mas, por causa da conjuntura, a temporada de Reis não me trouxe muitas Gasparendas para brincar –apesar de não me caírem os Gasparentes na lama por isso.   Quantas vezes já Gasparaste hoje? Não é pergunta que se entenda- é um facto- mas, hoje em dia, dia não...

UM COMPROMISSO

UM COMPROMISSO   Dizer sim a tudo: agora é que é. Vou dizer sim a tudo o que surja em qualquer caminho que percorra: a tudo o que a vida quiser mostrar-me. Sim, sempre: mesmo nas situações que travam o curso natural   das glândulas salivares –um sim, apesar de engolido em seco, nunca deixa de ser um sim.   Sim, mesmo que –no calor dos acontecimentos- a mente puxe para o não; mesmo que o eu pequeno tente rasteirar as intenções do EU maior; mesmo que o ego esteja (como costuma estar) a incitar à negação. Porque o ego é assim: anti sim. Pior ainda: arrasta-te para o sim – única e simplesmente- em escolhas que, potencialmente, desequilibram a tua estrutura, desagregam-te os sentidos, congestionam-te o trânsito mental. E quando escolhes nestas condições, tornas-te prisioneiro das tuas próprias opções. E não conseguirás deixar de pensar nelas. E agirás de acordo com o que pensas. E o que pensas não é bom: é deturpado, embaçado, manipulado. Tudo o que se torna repetitivo...