GASPARICES
Recordar é (re)viver uma animação pró-psicadélica do anos
80; recordar é rastejar até ao mítico Bichinho Gaspar- o bichinho que vivia
numa maçã, era comido, fazia uma viagem alucinada, casava e constituía família
no fim. Pelo meio, a metamorfose dava-lhe asas e voava tão perto do sol que as
queimava. Como estamos em época Gasparícia, decidi dar Gaspacho (uma espécie de
despacho com assinatura de Gaspar) a esta memória. É isso: devia ter mais em
que pensar, mas, por causa da conjuntura, a temporada de Reis não me trouxe
muitas Gasparendas para brincar –apesar de não me caírem os Gasparentes na lama
por isso.
Quantas vezes já
Gasparaste hoje? Não é pergunta que se entenda- é um facto- mas, hoje em dia,
dia não é dia sem uma boa Gasparice. Gasparando por esta Gasparlândia fora –e
nem é preciso Gaspar combustível numa viagem de carro (um bom sofá basta)-
vemos sinais de força G por todo o lado: hummmmm, aqui há Gaspar. Caramba: até
me faz Gaspa no cabelo escrever sobre este filho da fruta alucinado. E, sim,
concordo: até pode ser um desperdício de energias estar com tanta Gasparada
junta. Olha, os ingleses bem avisam: Mind the Ga(s)p! Há uma linha que separa um
país de sonho, deste em que vivemos: revisto e aumentado, agravado e tributado.
Isto está meio atribulado-eu sei. Mas precisava, mesmo, de desabafar sobre este
Gaspar que chega a dar voltas à barriga: ainda no outro dia saiu um Gasparão
que nem imaginam.
Ser Gaspar será,
porventura, admito, tarefa hercúlea; Gaspar está, por azar, familiarizado com
sacar; entrosado com levar; interligado com gamar; abraçado a “estou-me a
cagar”; associado a obrar. Portanto: nada fácil. Mas não tenhas pena. E não
fiques por aqui a ver tudo isto a Gaspar-se por aí abaixo. Gaspa-te mas é daqui
para fora. Vá: Gaspa-te enquanto podes. É que se não: continuas a ser Gaspado
até ao tutano. E dói, porra.
RUI MIGUEL MENDONÇA
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