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UMA VERDADE PRENÓSTICA


UMA VERDADE PERNÓSTICA

 Isto de dizerem que a crise é a para todos, é uma boa de uma treta; é que eu vejo aí os pernósticos desta vida, tão espevitados e repontões, que andam a engodar aquele e aqueloutro, que só me apetece dar-lhes o fenecimento merecido. É isso: deviam ser celebridades – mas no dia de finados. E acabava-se, de vez, com este flagelo (isso sim: motivo de crise) que é a fama plastificada, adornada com quilos de base, rimel e baton; floreada com as altas costuras de tipos (?) cujos nomes terminam em s: do Augustus ao Magustus, do Gamas ao Tenenentes… e aos Sargentus- é tudo da mesma tropa…fandanga.

 A imagem é a lei, a voz de comando para o êxito que julgam ser perene; é uma luta constante, um jogo, uma batalha pelo cosmeticamente atraente. Um verdadeiro pernóstico é, por norma, agnóstico. Acha-se ele próprio um Deus que nada faz (mas tudo tem a receber); é pouco dado a acrósticos ou mesósticos. Para o pernóstico, só há este diagnóstico: pessoas que ganham a vida a parecer atraentes quando, na verdade, porém, são tão inseguras sobre o seu poder de atração como qualquer comum mortal, mas aqui com a variante de que o valor dos famosos está sempre dependente da aferição de um público que não conhecem.
 Não passam de pés de barro, sem qualquer sustentabilidade, e que ao mínimo toque caiem e partem-se. E não partem para outra, porque, simplesmente, viveram toda a vida nesta grande ilusão: à procura de uma imagem; a aspirar uma coisa que não são- e não se é.

RUI MIGUEL MENDONÇA

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