UM
COMPROMISSO
Sim, mesmo que –no calor dos acontecimentos- a mente puxe para o não; mesmo que o eu pequeno tente rasteirar as intenções do EU maior; mesmo que o ego esteja (como costuma estar) a incitar à negação. Porque o ego é assim: anti sim. Pior ainda: arrasta-te para o sim – única e simplesmente- em escolhas que, potencialmente, desequilibram a tua estrutura, desagregam-te os sentidos, congestionam-te o trânsito mental. E quando escolhes nestas condições, tornas-te prisioneiro das tuas próprias opções. E não conseguirás deixar de pensar nelas. E agirás de acordo com o que pensas. E o que pensas não é bom: é deturpado, embaçado, manipulado. Tudo o que se torna repetitivo – como os pensamentos- deixa de ser puro. E um sentimento nunca se repete: é espontâneo, filho do momento, do único momento que é, verdadeiramente, real: aquele, o tal- que nunca mais será o mesmo.
Dizer sim, é agir: sem pensar uma vez, sequer. E em modo sim não há bom, nem mau, ou assim assim. Há ir e não voltar ao estado de partida. É avançar, e viver, sem tempo para julgar, considerar, questionar, maldizer, humilhar. “Há crise, chefe?”. Sim, há crise patrão. Mas deixa haver: deixa ser crise. O país e o mundo são o que são. E, portanto, se são é porque sim: porque assim têm de ser.
O importante é (sim)plesmente saber aceitar o sim como fiel companheiro, na saúde e na doença, na alegria e na tristeza. O sim é um estado honroso, estabelecido por ti; o sim é um símbolo de união entre ti e a vida –a vida que vale a pena; o sim deve ser contraído com reverência, considerando-se os fins para os quais ele foi – e é- ordenado: o amor, o consolo, o apoio, a proteção, o companheirismo ao teu próximo. Sim: o teu próximo desafio, a tua próxima oportunidade- a oportunidade que está sempre à espreita.
O medo. O medo de falhar é o que te impede de dizer sim. O medo do desconhecido bloqueia-te o acesso a outras estradas. Preferes o conforto do que já conheces; do que só conheces. Reflete comigo: quantas vezes por dia dizes “não”? Mais importante: a que que é que tu dizes “não”? O “não” já está automatizado na tua mente, até nas mais corriqueiras cenas do quotidiano. Desafio: o que é que farias se soubesses que não irias – nem poderias- falhar? O que é que te atreverias a sonhar? Se a tua vida não fosse construída à base de “ses”, ou “sim…mas”, ou “está bem…mas”?
É difícil dizer sim a tudo? Claro que é – mas ninguém falou em facilidades, muito menos em impossibilidades. Experimenta ir dizendo sim a pequenas coisas como: uma nova música, um alimento desconhecido, um lugar estranho, um filme completamente fora. Aconteça o que acontecer, será sempre uma aprendizagem. E então: faça chuva, faça sol, ventos, marés, tempestades: sim. Sim. Sim. Sempre sim. Sim, até mesmo quando tudo te parece uma merda, quando olhas e só vês cocós espalhados pelas ruas: “pisaste?”. Sim, pisei! Não é linda, a vida? Ó sim, se é!
RUI MIGUEL MENDONÇA
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