DO
QUE ESTÁS À ESPERA?
Dizer
que quem espera sempre alcança é uma das mais profundas mentiras populares ou,
pelo menos, uma meia verdade profundamente mal explicada. Porque o adágio não
explica o que é que realmente se alcança, apenas nos sugere que fiquemos “para
aí à espera” e depois “logo se vê, olha!”. A (in) verdade disto é que as horas
desta vida são corridas a esperar: esperas aí, esperas um bocadinho, esperas
bem, só esperas, esperavas mais, esperavas menos, esperas no mínimo, ficas à
espera, esperas para ver, e, pontualmente, até aplicas uma exceção a estas
esperas: “não esperes por mim para jantar!”.
Desafio-te a
elaborares uma lista de quantas coisas alcançaste por estares à espera!
Esperaste por um amor que sempre desejaste e –all you need is love- o amor
aconteceu? Esperaste que te saísse o Euromilhões e – magia -estás rico? Esperaste
que a oportunidade de mudares para um emprego melhor te aparecesse e- tcharan-
apareceu mesmo? Esperaste por um elogio do patrão sobre um trabalho de sucesso
e –suprise show- nem um pancadinha nas costas recebeste? Esperaste uma tarde
inteira que os tipos de uma operadora (sem propagandas) fossem a tua casa
montar uma super-mega-hyper box 5G Full HD e –cabrões- deixaram-te pendurado? Sim,
para esta? Não, para as outras perguntas? Então foste enganado – bullshit
popular!
Quem espera às
vezes (mas só às vezes) alcança. É uma sabedoria um (pouco) mais honesta e
sincera. É que quando entras numa sala de espera estás (e aqui é sempre)
subjugado ao tempo estimado…de espera, lá está! E esta espera desespera e exaspera; a espera
é ansiosa e, pior do que isso, consegue ainda ser capciosa, com armadilhas
montadas em cada esquina, sempre pronta a induzir-te ao erro, porque o tempo em
que estás à espera permite-te criar esperanças, ilusões, imagens, realidades
paralelas. E sabe bem, sabe tão bem, viver, momentaneamente, nesses sonhos
dentro do sonho que é esta realidade, ou o que nos foi imposto como sendo a
realidade. Só que depois, tudo – ou quase tudo- acontece ao contrário daquilo
que tu esperaste; tudo te foge, e de tudo passas a fugir, de tudo queres passar
a fugir, mas não consegues. A espera está lá, sempre que deixas de viver sem
esperar, pronta a gozar-te indecentemente.
Por isso, não
esperes! Não esperes nada; deixa-te ir ao ritmo da dança, fecha os olhos e
aprecia. O que vier veio, pronto! Será sempre uma experiência. Entrega-te,
simplesmente; vá, entrega-te! Do que estás à espera?
RUI MIGUEL MENDONÇA
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