NA
ESCURIDÃO
Deita-te na
escuridão, sozinho com ela, e sozinho nela; fecha os olhos, respira,
tranquilamente, suavemente, dois tempos para inspirar, quatro tempos para
expirar, respira no silêncio, respira o silêncio e não esperes nada, não
queiras nada, não penses nada, apenas fica, apenas sê. Agora abre, lentamente,
os olhos, e fixa a escuridão, galanteia-a, olha-a sem pestanejar, sorri para
ela, diz-lhe que é linda, e sem deixares de sorrir começa a beijá-la, abraça-a,
cheira-a, sente-a, e depois penetra-a como se a desejasses desde sempre, como
uma mulher fatal inalcançável, impossível de possuir. Há momentos em que parece
que ela te foge, esconde-se como uma menininha envergonhada; são os momentos em
que, inconscientemente, tens um piscar de olhos, uma nano fração de segundo que
te deixa perdido, como este espaço lúgrube sem tempo: vazio. Precisas dela e
vais procurá-la; não, não feches mais os olhos, porque quando os fechas entras
no teu próprio umbral, na penumbra que é a tua vida. Há medo, há muito medo,
ouves gritos, gritos sofridos e tangidos de horror, e vultos, vês vultos
negros, seres da sombra, são as tuas sombras, que te atormentam e dominam na
escuridão negativa que vive dentro de ti. Mas resiste, estás quase lá… resiste
à dor, ao ardor nos olhos, às lágrimas, a tudo. E agora, o que sentes? Nada?
Chegaste, encontraste-a; a escuridão, que não a tua, estás nela, e com ela vem
a calma, a tranquilidade, a paz. Aqui tens um novo começo, ou O começo, como a
semente lançada para uma nova vida na escuridão da terra, ou a criança que
começa a crescer no útero, é isto, aqui tens o amor que achaste perdido, o amor
de ti e por ti.
RUI MIGUEL MENDONÇA
Bom...muito Bom! =)
ResponderEliminarAbraço
Valador