Avançar para o conteúdo principal

O FIM DO MUNDO

O FIM DO MUNDO
 12 horas,12 minutos, do dia 12 do 12 de 2012: e o mundo não acabou! O mundo ainda não acabou. Este mundo, que está para acabar, continua assim: embrulhado em crises; embrenhado em ilusões; desfigurado em alucinações; sufocado no tempo; estropiado na sensatez e na honestidade. Um mundozinho a arrotar ganância, a regurgitar inveja, a bolçar julgamentos sumários sobre o próximo, a golfar estupidez, a cuspir miséria, enfezado em mesquinhez e a obrar poder (zinhos). O mundo é o refluxo (sim, também: o reflexo) da inconsciência humana.
Desejei (sim, qual é o problema, meretíssimos juizes?) que o mundo acabasse mesmo às 12 horas, 12 minutos, do dia 12 do 12 de 2012: e em ponto! Right on time. À la minute. In tempo. Mas não imaginei o grand finale com explosões hollywoodescas; e terramotos; e tsunamis; e degelos; e Deus a carregar em “terminar sessão” e desligar o computador terrestre. Nada disso. A grande cena seria: EXT. MUNDO – DIA: multidões de pessoas em passo acelerado nas ruas, trânsito caótico, carros a buzinar, condutores a protestar uns com os outros. E de repente: freeze!  O mundo frisado durante um minuto. Tudo parado: o tipo do Corsa cinzento que ía agredir a soco o condutor do Fiat 500 branco; o mitra que ía assaltar a velhinha que levantava dinheiro no multibanco; o taxista que se preparava para não parar na passadeira, enquanto uma mãe, empurrando um carrinho de bebé, atravessava a estrada; a mulher da caixa do supermercado que estava a ser antipática para os clientes; o miúdo, de 15 anos, a comprar droga à porta da escola; uma junta médica pronta a declarar mais uma aptidão para o trabalho a uma pessoa com esclerose lateral amiotrófica. Um minuto de paz. Um minuto de silêncio. Um minuto da nada. Depois, era deixar PC cósmico a funcionar.Painel de controlo: programas e funcionalidades - alterar mundo.
12 horas,13 minutos, do dia 12 do 12 de 2012: acabei de ser chamado para um duelo; um duelo entre imortais - a minha alma e as palavras. Pois bem, minhas caras: aqui me têm, de dedos em riste, pronto a disparar o que a alma me ordenar. Querem desafio? Vamos lá, considerem-me desafiado! Tal como o futebol “é isto”, a vida é também isto: o desafio, a experiência, o ir com tudo sem pensar, ou pesar, nada. Escrever é viver; escrever é deixar-se levar pelo desfiar - e o desafiar - das palavras. Gosto disto! Gosto deste tremendo poder, que deram ao ser humano, que é a capacidade de escolher. Todos nós passamos por momentos de escolhas; mas não existem escolhas certas ou erradas: existem apenas escolhas. Com um simples “sim” ou “não” ao desafio, escreves (lá está) o teu destino. As pessoas são, constantemente, convocadas para o desafio: ninguém fica fora das opções do “mister” Universo. O maior desafio -O desafio-, ainda está para chegar: realizar tudo, sem fazer nada; fazer tudo acontecer, sem nada fazer. Apenas desejar e acontecer…o novo mundo!

RUI MIGUEL MENDONÇA




Comentários

Mensagens populares deste blogue

OBRIGADO, DESIGUALMENTE!

                                       OBRIGADO, DESIGUALMENTE!     E viva as festas. E os jantares de empresa. E os abraços. E os braços dados. E os beijos feitos. E gritem-se os Felizes Natais, e outros desejos que tais. E proclame-se, como diz o povo, um próspero Ano Novo. E ouçam-se, de orelhas arrebitadas, os “obrigado, igualmente”, daqueles que são ditos – e escritos- a seco, em menos de cinco segundos, só porque tem de ser, só porque é de boa eduação responder qualquer coisa quando alguém te deseja…alguma coisa simpática. “Obrigado, igualmente” é o lema dos despachantes, dos “despacha lá isso, que já estou cheio de te ouvir”; reparem nas diferenças de velocidade que distanciam um “Feliz Natal” de um “obrigado, igualmente!”. Então: de um “Feliz Natal” ao “muito obrigado. Fe...

NÃO PÁRA, SIGLA, SIGLA!

NÃO PÁRA, SIGLA, SIGLA!   Sigla por aqui! Por aqui é o caminho, ou deverei dizer: sigla até ao atalho, abrevie o seu esforço, e uma sensação de agilidade garanta, tanto nos dedos (poupa na escrita) como na garganta (poupa na fala); seja como for, poupa e poupa mesmo, e este plano de poupança é infalível, sem juros, entradas, TAEG´s, TAN´s, ou essas tangas que deixam um tipo, verdadeiramente, de tanga.   A siglar é que tanta gente se entende hoje em dia. No fabuloso mundo ocidental os DPF´s, os DO´s, os DRH´S, os CA´s , os CO´s ou os CU´s   , embelezam as portas dos gabinetes, e dão pompa aos organigramas estampados em vitrines. Até as casas de banho são sigladas com um espampanante WC e raramente, ou quase nunca, assinaladas como lavabos ou, simplesmente, com o que elas realmente são: casas de banho.   Tudo o que não seja comunicar em formato reduzido já se torna estranho, quase um léxico extraterrestre. Ora como sempre gostei da pinta do ET (cá está, sigla)...

TU É QUE SABES!

  Tu é que sabes! Tu é que sabes é capaz de ser das coisas mais mesquinhas e cobardolas que se pode dizer a alguém. No mínimo, é atitude que pode potenciar o recurso, no imediato, a dois ou três Valdisperts dirigidos aos neurónios do interlocutor.   Então: temos a pessoa que pergunta a outrem uma opinião sobre determinado assunto; mas uma opinião do género: “achas que a gravata está direita? “. Depois, surge a resposta: pronta, seca e arrogantemente desferida - “tu é que sabes!”. Caramba! Eu é que sei? Então mas se perguntei,   é porque não sei, certo? Qual é a parte do “o que é que achas …?” que não deu para perceber?   No mundo do trabalho, onde Pilatos continua a lavar as mãos, o “tu é que sabes” tornou-se num paradigma. Tudo a bem da sobrevivência e da autoprotecção. A postura de “só sei que nada sei” poderia, à partida, ganhar uma perspectiva tremendamente socrática. Falo do Sócrates, o genuíno, que dizia que a sua sabedoria era limitada à sua própria ignor...