“C´est une croque, monsieur!”. O homem estava ao balcão daquela pâtisserie perto dos campos Elísios, no último dia de uma visita de trabalho a Paris. Provou, deliciado, aquele petisco tão francês que “estala nos dentes, senhor!”. Ficou tão envolvido na degustação do snack, que mal regressou ao país, colocou em marcha a operação Croc, em homenagem à sandwich francesinha. E, em pouco tempo, lançou para o mundo aquele calçado – que os experts da moda insistem em rebaixar à condição de meras e bregas sandálias de borracha. Eles são rosas, eles são verde-alface, eles são feios, eles são maus (para os pés, segundo os mesmos especialistas); e se eles são porcos, não sei, porque nunca os usei.
A verdade é que o tipo (canadiano, já agora), com este one-hit wonderer , tornou-se multimilionário. Como aqueles fenómenos de uma banda que só faz uma boa musica, um realizador que só faz um bom filme, um poeta que só faz um bom poema ou um jornalista (glup!) que só faz um bom artigo.
Os crocs andam aí, e os escroques também! Os escroques vagueiam pelos corredores das empresas a ver se calçam alguma coisa; são bichos do escroto, escondidos, encolhidos num canto, e só aparecem para provocar comichões nos ouvidos das chefias; alimentam-se da intriga, enchem-se com os mal entendidos, entranham-se no sistema, Tal como os crocs, os escroques só se sentem leves e confortáveis se pisarem alguma coisa, neste caso…alguém; tal como os croques, mesdames et messieurs, os escroques transformam o alvo que lhes assiste em queijo derretido, e ensanduicham-no até esmagar; tal como os crocs, os escroques surgem, em primeira instância, como uma companhia fluorescente, um porreiraço, um confidente, que é capaz de se mascarar e apresentar-se como um individuo descontente com o rumo das coisas, do colega que “está farto disto” e compreende as tuas insatisfações. E garante estar pronto a ajudar-te em tudo o que for preciso. Tudo…ou nada! Tudo o que possam fazer para não se prejudicarem, para não serem responsabilizados, para não serem chamados à atenção; e desviam as atenções de si mesmos, e deixam-nas por conta de outrem. E nada, nada do que possa significar trabalho de equipa, solidariedade, honestidade ou companheirismo, é relevante. São o protótipo do mim, eu próprio, e eu. São as típicas criaturas que exigem emails por tudo e mais alguma coisa. “Manda-me um mail, a explicar tudo”. Para quê? Para lavarem as mãos, em situações de conflito com a chefia; para dizerem: “eu? Eu não tenho nada a ver com isso! Fulano, ou fulana, de tal, é que decidiu. Tenho aqui o email.” E reencaminha-o, para a respetiva direção, sem “ad cc” para a pessoa que vai tramar.
O escroque nunca se compromete com nada, tem duas caras, diz que não disse; mas fica em agonia quando alguém descobre as escrotices que comete e em que mete os outros. Acobarda-se, tem medo, teme ser confrontado, e treme quando é chamado a dar explicações. Infelizmente, e ao contrário dos crocs, os escroques não são uma moda passageira; não fazem um estilo que passe tão rápido como surgiu. Estão bem instalados, nos nossos recantos de crise. Os escroques são feios; os escroques são porcos; os escroques são maus.
RUI MIGUEL MENDONÇA
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