Avançar para o conteúdo principal

LIKE!


 Ana e Adriano estão divorciados há um ano, e divorciaram-se em regime de separação -ou conjugação- de males (o casamento acabou realmente a mal), entre gritos, ofensas, desconfianças, e depois, destas e de outras vias, chegaram a este facto: divórcio! Um ano passou, um ano sem contactos, emails, telefones, sms...nada; um ano sem memórias, ou pelo menos, a evitar as memórias. Até que um dia, (re) descobrem-se um ao outro através de uma amiga comum no facebook. E é ele o primeiro a pedir amizade: pedido de amizade aceite!

-Olá!

Ana gosta disto.

-Há quanto tempo. Está tudo bem?

-Sim, tudo! Obrigada.

Adriano gosta disto.

-Confesso que já há algum tempo que andava para te procurar, por aqui.
Uma pessoa gosta disto.

-Ah sim? E por que razão me procuraste tanto? O habitual saudosismo no vale das relações mortas?
Uma pessoa gosta disto.

- E já agora, Cátia. Podes, por favor, deixar de pôr “likes” por tudo e por nada?
Adriano gosta disto.

-Procurei-te simplesmente porque sim, porque me apeteceu, porque quis saber de ti e o que andas fazer e…com quem andas a fazer.
(Caramba Adriano, nem imaginas as vezes que me apeteceu procurar-te, e fazer as coisas que ando a fazer…contigo, a meu lado.)

-Bem, sabes…isto e aquilo. Uns flirts passageiros. Nada de especial. E tu?
Adriano gosta disto.

(Ana, não consegui estar com mais ninguém, nunca mais. No minuto seguinte a ter assinado o divórcio, arrependi-me. Porque te amo, nunca deixei de te amar, mesmo nos piores momentos.)

-Namorei com uma pessoa durante três meses. Foi bom, mas ela foi trabalhar para o Qatar e ficámos por aí.
Ana gosta disto.

-Olha, e por que é que estamos a escrever na cronologia, com toda a gente a ver?
Adriano gosta disto.

- Simplesmente porque…
Adriano gosta disto

-Porque ???
-Não percebeste, ainda?

- ???
Adriano gosta disto.

-Gosto, Ana. Gosto de ti, ainda gosto de ti. Por isso te quis tanto procurar, para te dizer que te amo.
Ana gosta disto.

-Se eu pudesse, fazia “gosto” duas mil vezes. E mais duas mil para dizer o quanto senti a tua falta.
-Voltemos, então, ao início de tudo. És muito gira, posso conhecer-te?

Ana e 53 pessoas gostam disto.

RUI MIGUEL MENDONÇA

Comentários

Mensagens populares deste blogue

OBRIGADO, DESIGUALMENTE!

                                       OBRIGADO, DESIGUALMENTE!     E viva as festas. E os jantares de empresa. E os abraços. E os braços dados. E os beijos feitos. E gritem-se os Felizes Natais, e outros desejos que tais. E proclame-se, como diz o povo, um próspero Ano Novo. E ouçam-se, de orelhas arrebitadas, os “obrigado, igualmente”, daqueles que são ditos – e escritos- a seco, em menos de cinco segundos, só porque tem de ser, só porque é de boa eduação responder qualquer coisa quando alguém te deseja…alguma coisa simpática. “Obrigado, igualmente” é o lema dos despachantes, dos “despacha lá isso, que já estou cheio de te ouvir”; reparem nas diferenças de velocidade que distanciam um “Feliz Natal” de um “obrigado, igualmente!”. Então: de um “Feliz Natal” ao “muito obrigado. Fe...

NÃO PÁRA, SIGLA, SIGLA!

NÃO PÁRA, SIGLA, SIGLA!   Sigla por aqui! Por aqui é o caminho, ou deverei dizer: sigla até ao atalho, abrevie o seu esforço, e uma sensação de agilidade garanta, tanto nos dedos (poupa na escrita) como na garganta (poupa na fala); seja como for, poupa e poupa mesmo, e este plano de poupança é infalível, sem juros, entradas, TAEG´s, TAN´s, ou essas tangas que deixam um tipo, verdadeiramente, de tanga.   A siglar é que tanta gente se entende hoje em dia. No fabuloso mundo ocidental os DPF´s, os DO´s, os DRH´S, os CA´s , os CO´s ou os CU´s   , embelezam as portas dos gabinetes, e dão pompa aos organigramas estampados em vitrines. Até as casas de banho são sigladas com um espampanante WC e raramente, ou quase nunca, assinaladas como lavabos ou, simplesmente, com o que elas realmente são: casas de banho.   Tudo o que não seja comunicar em formato reduzido já se torna estranho, quase um léxico extraterrestre. Ora como sempre gostei da pinta do ET (cá está, sigla)...

TU É QUE SABES!

  Tu é que sabes! Tu é que sabes é capaz de ser das coisas mais mesquinhas e cobardolas que se pode dizer a alguém. No mínimo, é atitude que pode potenciar o recurso, no imediato, a dois ou três Valdisperts dirigidos aos neurónios do interlocutor.   Então: temos a pessoa que pergunta a outrem uma opinião sobre determinado assunto; mas uma opinião do género: “achas que a gravata está direita? “. Depois, surge a resposta: pronta, seca e arrogantemente desferida - “tu é que sabes!”. Caramba! Eu é que sei? Então mas se perguntei,   é porque não sei, certo? Qual é a parte do “o que é que achas …?” que não deu para perceber?   No mundo do trabalho, onde Pilatos continua a lavar as mãos, o “tu é que sabes” tornou-se num paradigma. Tudo a bem da sobrevivência e da autoprotecção. A postura de “só sei que nada sei” poderia, à partida, ganhar uma perspectiva tremendamente socrática. Falo do Sócrates, o genuíno, que dizia que a sua sabedoria era limitada à sua própria ignor...