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AMIGOS PARA SEMPRE
Uma história para a turma da minha filha, na altura com quatro anos.
Binho, Finho e Zinho são três amigos que vivem na Baía dos
Golfinhos. Eles são inseparáveis, e todos os dias é o Zinho, o mais velho do
grupo, que vai acordar os outros para irem trabalhar.
-Vamos, seus
preguiçosos! Toca a acordar! (diz o Zinho, todo entusiasmado).
Mas os amigos não
parecem estar com muita vontade:
-Uuuuuaai! Mas que
horas são? (boceja o Binho).
-Mas que mania tens de levantar-te cedo!, resmunga o Finho,
virando-se para o outro lado da cama.
-Vá lá, vá lá! São horas de ir apanhar sol e dar uns saltos.
Vá, mexam essas barbatanas!. (ordena o Zinho, enquanto empurra os outros para
fora dos lençóis).
-Mas…que berrata é esta, que estou a ouvir? (pergunta o
Binho, ainda estremunhado).
-Grunf! São as focas, de certeza! A esta hora…. (refila o Finho).
-Oh seus cabeças de alho xoxo! (exclama o Zinho). Então não
se lembram que hoje é dia de espetáculo? Este barulho são as pessoas a chegar
para nos verem. E esta música….
Binho interrompe, eufórico:
-….significa: Suuuuuuper Golfinhos Shoooow!
Os três, logo, mergulham na piscina de água salgada, e nadam a
alta velocidade em direção à porta. Mas,
de repente, são interrompidos, no caminho, pelas manas focas.
-Oláááaááá´(dizem elas, com ar de gozo). Então por aqui?
-Não temos tempo para vocês (diz o ZInho, zangado). Estamos
atrasados!
-Ahhhh (novamente as focas). Ninguém vos disse?
-Disse, o quê (diz o Finho, entre dentes)?
-Hoje somos nós a dar o espetáculo! (e começam as duas a
bater palmas, acompanhadas daqueles trinados tão carateristicos: af,af,af,af,af,af,af!)
-Ah é? (diz o Binho todo contente). Então vou voltar para a
cama!
-Vai, vai! (as focas levantam as barbatanas a dizer adeus).
Mas olha…não ressones muito alto para não perturbares o espetáculo. (novamente
as duas batem palmas, com sons em alto volume)
-Oooooh, pssssté! Ninguém vai a lado nenhum (grita o Zinho).
Nenhum de vocês arreda barbatana daqui! Se as senhoras querem dar o espetáculo….Façam
favor!
-Eh, Zinho! Estás tonto? (pergunta o Finho, admirado).
-Schhhhh! Eu sei o que estou fazer! (afirma o Zinho,
tranquilo, e piscando o olho aos dois amigos)
-Adeus, rapazes! No fim pode ser que sobrem uns peixinhos para vocês.
Ah,ah,ah,ah! (gozam as focas)
E lá vão as focas,
todas contentes, sacudindo as caudas. Os três golfinhos ficam junto à porta, a
ouvir os aplausos das pessoas, a música, a voz que diz “Senhoras e Senhores,
meninos e meninas, palmas para as
fantáááásticas maaaaaaaaaaanas fooooocas”.
-Zinho, explica lá qual é a tua ideia. (pede o Binho,
zangado)
-Bom, meus queridos amigos, pensem comigo: o que é que as
focas sabem fazer? (pergunta o Zinho)
-Sei lá! Nadam?! (responde o Finho).
-Sim, e mais? (pergunta o Zinho)
-Mergulham bem fundo. (lembra, o Binho)
-Batem palmas e fazem um barulho estranho (sorri o Finho)
-E são grandes e pesadas (intervém o Zinho). Sabem o que
isso significa?
-Nããããão?! (dizem os outros dois, ao mesmo tempo)
-Que não conseguem saltar como nós! (aqui, Zinho, apresenta um ar triunfante!)
-Ahhhhhh! Já estou a perceber (afirma o Binho)…
-E eu tambééém….(junta o Finho). Oh, Zinho, tu és mesmo um
grande malandro.
-Eh,eh! Quando as focas forem chamadas a fazer o número dos
saltos para as bolas, que estão por cima da piscina, não vão conseguir chegar
lá, nem sequer com um bigode. E, depois, as pessoas não gostam, vão assobiar, e
elas regressam aqui com o rabinho entre as barbatanas…(diz Zinho, entusiasmado
com a ideia).
-Olhem, está quase (avisa Finho). Espreitem aqui!
E, de facto, o show das focas estava a ser um sucesso. Elas davam cambalhotas, batiam palmas, faziam
rir, davam beijinhos aos meninos e meninas. E, de repente, o público começa a
cantar: “e saltem focas, e saltem focas,
olé, olé!”. As manas trocam olhares preocupados. Tentam disfarçar com um número
de pino. Mas as pessoas não paravam de pedir. O treinador apita a primeira vez.
Elas bem olham para as bolas, mas nem de longe lá chegam. Uma volta debaixo de água, para acalmar. Segunda vez:
nada! Pobres focas. Vêm os assobios. E,
agora, os gritos das bancadas viram-se para os golfinhos. “Golfinhos,
golfinhos, golfinhos,golfinhos!”, pedem as pessoas. Os três amigos estão à escuta. Olham uns para
os outros.
-Amigos, vocês estão a pensar o mesmo que eu? (pergunta
Binho). Não as podemos deixar ali, tão tristes e abandonadas, pois não Zinho?
-Claro que não, Binho!
Finho, elas conseguem ser muito irritantes às vezes, mas são nossas
amigas!
-Pois são, Zinho. Vamos ajudá-las! Amigos: SUUUUUUUUUPER
GOLFIIIIIINHOS SHOW!
E eles lançam-se para a água, cheios de energia e vontade.
Nem ligam aos aplausos. Desde logo, desafiam as focas a mergulharem e nadarem
com eles. Dão três voltas à piscina e, de repente, com o nariz, os golfinhos
empurram as focas para um tremendo salto em direção às bolas. Tal é a força que uma das bolas chega mesmo a
soltar-se. Os cinco voltam a cair na água, de tal maneira, que as pessoas das
primeiras filas ficam ensopadas.
Primeiro, fez-se um incrível silêncio na plateia, de espanto e admiração.
Mas depois, os aplausos…tantos! Ouve-se a voz do microfone:
“ESPECTAAAAAACULAAAR. OBRIGADO AOS MAIORES ARTISTAS DO MUUUUNDO”. As manas focas abraçam as barbatanas aos golfinhos.
Agradecem e saiem todos juntos, a cantar : “AMIGOS PARA SEMPRE!”
RUI MIGUEL MENDONÇA
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