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OS RESULESTADISTAS


OS RESULESTADISTAS


 O mundo está cheio de resultadistas. Daqueles que precisam de resultados, querem resultados, dependem de resultados. O resultado alimenta-os, vive-lhes e sobrevive-lhes. Para eles não há passado nem presente: só futuro. São os resul-estadistas: os tipos que estão, permanentemente, em estado de resultado, em ponto de resultado; pessoas versadas nos princípios ou na arte de governar resultados.

 Treinador sem resultados, despedido; funcionário sem resultados, rua; gestor sem resultados, dispensado; político sem resultados, é cedido ao Conselho de Administração de uma qualquer empresa pública, mas sai…por falta de resultados; televisão sem audiências, pânico; jornais sem vendas, despedimento coletivo.

 O resultado vícia, coabita a mente, toma-a com absoluto poder e despudor, o ego enche-se de pavonices e parvoíces. Sim, confesso: já me passou pela cabeça qual vai ser o resultado deste artigo, ao pensar em quantas pessoas o vão ler. O resultestadista governa com objetivos, unicamente com aquilo que quer atingir. O como, o onde e o porquê  perderam toda a credibilidade de outrora.  Como? " O que interessa isso? Quero é ganhar!", dirá o Homem-resultado. Com três perguntinhas, apenas, constrói todo o seu quotidiano: o QUÊ e QUANTO (lucra)? E, claro, o QUANDO, o amanhã. O único vestígio de passado acontece quando tem de atingir resultados…para ontem.

 Toda a ação é feita com base em metas. Tudo o que acontece é resultado de alguma coisa. Todo e qualquer efeito é resultante de uma determinada escolha. É a obsessão pelo fim, o querer saber como acaba. O meio deixou de ser o centro da virtude humana.  

 Resultado disto tudo: vivem a não-vida. Eles não sabem, mas deveriam saber, que esta vida de resultados vai acabar, mais tarde ou mais cedo; a vida por empréstimo, cedida em regime temporário; a vida que se tem, mas que não É.

RUI MIGUEL MENDONÇA

Comentários

  1. É verdade Rui... a "não vida"! Excelente expressão!!
    beijinhos. Rita

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    Respostas
    1. Um problema dos nossos dias, Rita! Não termos consciência dessa "não vida". Obrigado pelo comentário.

      Uma abraço

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